terça-feira, 17 de junho de 2014

Breve história de Maria Greyci

Eu era várias - por: Luís Marques
Vários. Vários. Sabiamente vários. Pausas de Maria Greyci. Depois de sair da vagina de minha mãe, rotularam-me com um conjunto de letras às quais disseram ser meu nome. Em seguida, vestiram-me de roupas rosas com estampas florais e delicadas. Ninguém podia perguntar se era aquilo que queria usar. Mas eu também gostava de outras cores, o rosa não me agradava tanto. Preto e roxo davam-me uma certa paz. Ninguém podia perguntar se era aquilo que queria usar.

Restritos. Restritos. Sabiamente restritos. Escolhas de Maria Greyci. Quando fiz doze anos tive vontade de usar cuecas. Meus pais me olharam com desaprovação, achavam que aquilo era sinal de que gostava de mulheres. Continuava a gostar de homens. Ali nossa distância começava a tomar formas mais explícitas. Parei de usar cuecas, aprendi a gostar de calcinhas. Segui, não chorei diante da restrição deles, segui os amando, embora também amasse cuecas.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Identidade de Gênero

Arthur, 13 anos
Foto: Rafa Borges

Há momentos em que a criança se recusa a ser associado com a identidade sexual (menino ou menina), que corresponde ao seu sexo anatômico. Esta recusa não é um crescimento transitório e persistente. São as chamadas crianças transgênero. O papel dos pais é fundamental para o bem-estar das crianças transgênero, pois, à medida que vão crescendo, crianças transgêneros experienciam rejeição e muitas vezes são intimidadas, o que promove uma estigmatização e isolamento social. A reportagem divulgada pelo iGay conta como é essa experiência familiar. (Jéssika Queiroz)


Por Iran Giusti

Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção”

Mesmo enfrentando preconceito e incompreensão fora de casa, o adolescente teve apoio total da família para assumir gênero oposto ao de nascimento
Artur (Centro) e a família: Mãe Juliana da Silva Fernandes, os irmãos gêmeos, Enzo e Júlio e o pai Fabricio Alves.
Foto: Rafa Borges 

"Mãe, tirei zero na prova de História porque escrevi o meu nome social e não o de registro. A professora disse que eu tinha rasurado". Em seu primeiro contato com a reportagem do iGay, o menino Arthur Fernandes Alves já chega contando o problema pelo qual passou na escola. A situação exemplifica o tipo de percalço enfrentado por um menino transexual de 13 anos de idade, que vive em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Apesar de incomodar, um problema como esse não abate Arthur. Com seus cabelos azuis e camisa preta de banda, ele é um adolescente como muitos outros, cheio de paixões e aspirações. Além dos HQs de mangás orientais, o jovem se diverte ouvindo bandas como Green Day e MyChemical Romance.
Cabeleireiro e tatuador são as profissões que Arthur pensa seguir quando for adulto. Cursando o oitavo ano do ensino fundamental, ele aprendeu inglês e japonês estudando por conta própria em casa.
Nascido menina, Arthur se percebeu diferente já aos quatro anos de idade. "Sempre gostei de andar com os meninos, o melhor presente que ganhei na minha vida foi uma pista de carrinhos", revela o adolescente, que teve a sorte de vir ao mundo num ambiente livre de preconceitos. A mãe, Juliana da Silva Fernandes, é uma bióloga de 36 anos. Psicólogo de formação, o pai, Fabrício Alves, tem 37 e trabalha como bancário.